Lançar uma sequência para O Auto da Compadecida, um dos maiores clássicos do cinema nacional, é uma tarefa monumental. A produção de O Auto da Compadecida 2 prometeu revisitar este universo apenas se houvesse algo de valor a acrescentar. No entanto, embora o filme tenha momentos divertidos e um elenco competente, ele não consegue escapar da sombra de seu antecessor, resultando em uma experiência que, embora visualmente impressionante, é narrativamente inconsistente e, muitas vezes, cansativa.
A trama começa com uma disputa política entre dois personagens marcantes: o coronel Ermani (Humberto Martins) e Arlindo (Eduardo Sterblitch), o dono da rádio da fictícia cidade de Taperoá. No entanto, essa narrativa que é construída ao longo de todo o filme é abandonada em determinado momento, e o foco muda completamente para outro enredo. Essa falta de coesão compromete a experiência, deixando o espectador desorientado e frustrado. As “barrigas” do roteiro tornam o filme arrastado, e boa parte do que é construído inicialmente acaba sendo descartado, sem contribuir para o desenrolar da história.
Apesar disso, há momentos cômicos que remetem ao charme do primeiro filme, e as autorreferências agradam nos primeiros instantes. Ver bordões, personagens clássicos e flashbacks estilizados em xilogravura pode gerar nostalgia, mas o recurso se torna repetitivo e perde sua eficácia com o tempo, transformando-se em uma muleta narrativa.
Outro ponto que distancia esta sequência de seu antecessor é o aspecto visual. Diferentemente do primeiro filme, gravado em locações reais que capturavam a autenticidade do sertão nordestino, O Auto da Compadecida 2 foi inteiramente filmado em estúdio, com forte uso de CGI. Embora a tecnologia permita um visual sofisticado e estilizado, em muitos momentos o ambiente soa artificial demais, tirando parte da imersão e naturalidade que caracterizaram o original.
O elenco, com atuações sólidas, é um dos pontos altos da produção. Selton Mello e Matheus Nachtergaele não deixaram que os personagens Chicó e João Grilo envelhecessem um dia sequer. Nachtergaele, inclusive, entrega performances para além de seu protagonista que são um show à parte, um verdadeiro espetáculo de atuação. Mesmo assim, os esforços dos atores não conseguem sustentar um roteiro que carece do brilhantismo, da coesão e da profundidade emocional que marcaram o primeiro filme.
No final, O Auto da Compadecida 2 expande o universo da história, mas não entrega uma narrativa envolvente ou inovadora o suficiente para justificar sua existência. O filme acaba entrando para a lista de sequências que, embora competentes em alguns aspectos, não conseguem corresponder à grandiosidade da obra original. Para os fãs do primeiro filme, a experiência pode ser mediana, e talvez o maior legado desta sequência seja lembrar o público do quanto o original foi marcante.
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