Invencível é uma das produções de super-heróis de maior potencial lançada nos últimos anos. A sua animação é sucesso no PrimeVideo e um filme live-action já está sendo produzido, mas nos quadrinhos, a obra é tão boa assim? Aqui te conto tudo o que você precisa saber antes de ler, além de expressar minha opinião sobre o quadrinho (quase sem spoiler).
Criada por Robert Kirkman e ilustrada por Cory Walker e Ryan Ottley, a HQ foi publicada pela Image Comics entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2018, contando com 144 edições.
Ao contrário dos quadrinhos da Marvel e DC, Invincible (título original) possui uma história contínua, em formato de graphic novel – novela gráfica -, e isso já torna a experiência diferente, mas é sua história estimulante que garante a cereja do bolo.
Desde o início, acompanhamos Mark Grayson, um jovem que gradualmente se torna o super-herói Invencível, em uma jornada que se distancia de heróis tradicionais ao lidar com questões de moralidade, perda e o peso de ser um super-ser em um mundo caótico.
Pontos fortes
O ponto forte da narrativa é a fácil identificação que ela gera com o leitor. Tal como Peter Parker/Homem-Aranha, Mark começa sua trajetória de forma simples: um adolescente comum que descobre seus poderes e tenta equilibrar sua vida pessoal com o novo fardo que carrega. Isso cria um vínculo emocional imediato com o público.
No entanto, enquanto o leitor espera uma progressão tradicional, Kirkman começa a subverter expectativas, tornando o universo de Invencível incrivelmente vasto e diversificado, com alienígenas, magia, ciências absurdamente avançadas e até multiversos. Este mundo parece, em alguns momentos, exagerado, mas essa é a proposta: tudo acontece porque precisa acontecer, e a aceitação desse caos é o primeiro passo para aproveitar a série.
Essa aceleração, que às vezes soa como um grande “deus ex machina”, pode gerar estranhamento para os leitores acostumados a uma progressão mais gradual. Ao contrário dos universos que se construíram ao longo de décadas, como Marvel e DC, Invencível é uma série que não tem medo de introduzir grandes elementos a qualquer momento, sem necessariamente fundamentá-los com longos antecedentes.
Na verdade, a série até se aproveita do conhecimento prévio do leitor sobre universos de super-heróis para pegar alguns atalhos, e esse é um ótimo recurso para evitar a mesmice. Ainda assim, após essa fase de introdução caótica, o enredo começa a ganhar consistência, com os personagens recebendo desenvolvimentos profundos e relações complexas.
Inclusive, esse é um dos pontos que pode surpreender os fãs que conheceram a obra pela série animada. A ordem dos acontecimentos nos quadrinhos é bem diferente da animação. Lá, somos apresentados a este universo tão vasto logo de cara, enquanto a HQ vai trabalhando cada arco um-a-um; e isso não é um demérito de nenhum formato, são apenas formas diferentes de se contar a mesma história.
Aliás, a construção do personagem principal é um dos maiores méritos de Kirkman. Mark Grayson não é um super-herói comum, e suas decisões muitas vezes desafiam as normas morais tradicionais do gênero. Ele mata, sofre, erra e lida com as consequências disso. Ao contrário de heróis como Superman ou Homem-Aranha, que mantêm seus princípios intactos, Mark é transformado pelas dificuldades que enfrenta. Essa trajetória, embora previsível em alguns momentos, continua a ser interessante por expor Mark a traumas e desafios que o moldam de maneira realista, mas também fantástica.
Pontos fracos
E nessa jornada de quase 150 volumes acontecem muitas coisas questionáveis, para dizer o mínimo. Eventos onde o roteirista frita suas ideias e depois trata a situação como um surto coletivo, como por exemplo [ALERTA DE SPOILER], em determinado momento um dos personagens assassina* os próprios pais e depois finge que eles sofreram um acidente. Até existe uma metalinguagem para dizer que aquele foi um momento bastante atípico, mas depois a história se desenrola como se nada tivesse acontecido.
Outra crítica está no desenvolvimento desigual de alguns arcos narrativos. Em certos momentos, a história oscila entre um ritmo bem cadenciado e uma pressa para concluir eventos importantes, principalmente no final, onde percebemos que o roteiro corre para colocar no papel todas as ideias. Essa pressa prejudica a experiência, com grandes acontecimentos sendo resolvidos em poucas páginas, retirando o peso que deveriam carregar.
Os volumes finais de Invencível são tão rápidos, que mal assimilamos tudo o que está acontecendo, na verdade, só quando temos algum respiro é que percebemos o quão distante a história está de onde tudo começou – e isso não é exatamente ruim, porque é inovador, mas a forma como a trama é finalizada quebra tanto o padrão que aquilo parece feito de forma errada.
Agora, um aspecto relevante é a qualidade artística. O estilo de desenho de Invencível oscila bastante. Há momentos de grande beleza e detalhamento, que poderiam facilmente ser transformados em pôsteres, seguidos por páginas com arte visivelmente inferior. Essa inconsistência incomoda, especialmente em uma mídia em que o visual desempenha um papel tão importante quanto o texto. Assim como na animação da PrimeVideo, o seu estilo de arte não possui qualquer diferencial, sendo o design dos personagens e cenários o grande trunfo dos ilustradores.
Vale a pena ler os quadrinhos de Invencível?
Apesar desses desafios, Invencível nunca se torna cansativo, sempre se mantém como uma leitura envolvente e dinâmica. Kirkman sabe como construir tensão e criar bons momentos que ficam na mente do leitor. A série oscila entre o familiar e o inesperado, subvertendo expectativas ao introduzir soluções criativas para problemas aparentemente previsíveis.
Em conclusão, Invencível é uma série que merece atenção, especialmente pelos leitores que buscam algo além do convencional do gênero de super-heróis. A jornada de Mark Grayson é cheia de altos e baixos, mas a maneira como Kirkman trabalha o crescimento contínuo de seu protagonista e a vasta complexidade do universo ao seu redor torna a leitura uma experiência marcante. Mesmo com alguns problemas de ritmo e arte, Invencível se destaca como uma das mais criativas e emocionantes histórias em quadrinhos dos últimos tempos
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