Crítica | Missão de Sobrevivência traz intensidade com trama baseada em eventos reais

O gênero de ação sofre nas últimas décadas com roteiros formulaicos que pouco contagiam. E é nesse contexto que as produções raramente possuem elementos que as diferenciem do lugar comum. Felizmente, Missão de Sobrevivência chega com uma proposta simples, mas suficiente para fugir dessa circunstância e oferecer uma experiência intensa e mais profunda que grande parte dessas obras.

Com uma premissa fundamentada em eventos reais da guerra no Afeganistão, Gerard Butler dá vida a Tom Harris, um veterano agente da CIA que acabara de aceitar uma nova missão e ao mesmo tempo que precisa contornar os contratempos de sua tarefa para sobreviver, tem de lidar com seus demônios internos.

O roteiro de Mitchell Lafortune apresenta camadas que geralmente não estão presentes em filmes dessa categoria. Além dos instantes frenéticos, o longa não se intimida ao mergulhar em discussões filosóficas e religiosas. Outro fator a ser destacado é a maturidade de uma produção que não reproduz o clássico herói americano. Apesar de em alguns momentos se perder um pouco na questão patriótica, são expostas diferentes óticas sobre cada parte envolvida nos conflitos, refletindo certa neutralidade; não existe um vilão que gosta de ser mau ou um herói cheio de princípios e regras morais, cada qual faz o que julga ser sua verdade.

Gerard Butler em Missão de Sobrevivência

“Mo”, interpretado por Navid Negahban, é outro personagem importantíssimo para manter o progresso narrativo, seja trazendo pontos de virada ou propiciando a evolução do protagonista. Um excelente coadjuvante que além de cumprir bem o objetivo de alavancar a figura principal, também possui presença de tela e faz com que o público seja empático crie laços com seu personagem.

Mas é claro, não se faz um filme de ação sem os grandes momentos de tensão, que por sua vez são muito bem executados. Com algumas sequências de tirar o fôlego, o longa sabe dosar bem esses momentos e abusar da criatividade na realização das explosões, perseguições e coreografias. Já a força da direção é bem percebida nas composições que mostram os diálogos e transparecem tranquilidade, fator que impulsiona ainda mais o impacto nos trechos de ação pura.

Por mais que tenha em torno de 2 horas de duração, que acredito ser mais do que suficiente para cumprir o conceito, o investimento de tempo dado ao desenvolvimento das relações não foi algo bem articulado. Até conseguimos entender os fatores que levam um personagem a se aproximar ou afastar de outro, mas há uma certa sensação de pressa nessas construções. Não como se isso fosse algo que pudesse arruinar sua experiência e, na verdade, é uma condição que é deixada muito mais de lado na maioria das produções desse viés, que costumam usar o “excesso” de tempo para a execução de mais cenas de ação.  

Por fim, o diretor Ric Roman Waugh consegue entregar um filme que entretém, diverte e até emociona em alguns momentos. Com boas atuações, direção caprichada e um roteiro decente para o padrão, Missão de Sobrevivência é definitivamente uma jornada que vale a pena ser acompanhada. É sempre uma satisfação receber um filme honesto, que entende suas limitações, mas também não se restringe a repetir a receita mais básica do gênero.

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