Oito anos após o capítulo final de uma das melhores franquias adaptadas da literatura, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes chega aos cinemas nesta quinta-feira (16) para reacender a chama da revolução de Panem em cada fã da saga. Adaptada do mais recente livro da autora Suzanne Collins, a história serve como uma prequel (termo denominado para produções que retornam no tempo para explorar uma história pregressa do universo já conhecido pelo público) dos acontecimentos vividos pela famosa Katniss Everdeen.
Co-adaptado por Michael Lesslie e Michael Arndt (Jogos Vorazes: Em Chamas, de 2013), o roteiro de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes segue a lógica de fidelidade dos quatro filmes anteriores, aproximando sempre o leitor para o que é posto na tela do cinema. O longa-metragem, com suas 2h40min de duração, é mais uma prova de que Suzanne sabe escrever histórias extremamente cativantes. O domínio do universo construído por ela prova que ainda podem existir muitos capítulos na trajetória de Panem para serem contados.
No caso desta narrativa, no entanto, o público se depara com um Snow jovem (Tom Blyth), buscando uma brecha para ascender social e politicamente. Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes se passa no ano da 10ª edição dos Jogos, ou seja, 64 anos antes dos eventos do primeiro Jogos Vorazes (2012). A história mostra ao espectador Coriolanus Snow como mentor de um tributo dos Jogos e a sua caminhada para transformar de uma vez, não apenas sua vida, mas a forma de execução do evento, tornando ele o verdadeiro espetáculo de violência que é visto nas edições com Katniss.
Assim como nos filmes anteriores, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tem um foco político essencial para a trama. No entanto, diferente dos outros capítulos, existe uma dualidade na construção do tensionamento das vivências do personagem principal. Antes o público via Katniss, uma clara heroína , lutando por sua vida e, mais à frente, pelo ideal de liberdade. Aqui existe um campo cinzento para transitar. Snow, o sádico inimigo de Katniss, é posto no novo longa como uma figura que ora transita pelo lugar de mocinho, ora de vilão. E são essas camadas que aproximam o público ainda mais da narrativa.
Assim como Coriolanus, seu tributo do distrito 12, Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), também caminha por um lugar cinzento no processo de identificação do público. Essa falta de clareza do que eles deveriam ser ou onde se encaixar no que tange os espectros de vilania e heroísmo, fazem com que a história traga camadas que antes não foram trabalhadas. Essa característica, contudo, também se torna o maior defeito de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. A entrega de Zegler (Amor, Sublime Amor, de 2021) e Blyth não é suficiente para sustentar com maestria as camadas exigidas pelos seus respectivos personagens.
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A falta de força em cena do elenco principal é o fator que prejudica A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. Tom Blyth demora para conseguir convencer que ele é o Snow, ao mesmo tempo que custa a entregar essa dualidade exigida pela trama. Rachel Zegler, por sua vez, parece que está na produção por conta de sua voz e não de seu talento na arte da interpretação. Nas cenas em que Lucy canta, seu desempenho é incrível, assim como sua voz. No entanto, em qualquer outro momento, é difícil que o público seja convencido por sua atuação tão forçada e artificial.
Assim como em West Side Story, Zegler consegue ser ofuscada por qualquer coadjuvante que verdadeiramente entregue o máximo que seu personagem permite. E o que não falta nesta produção são artistas de qualidade com papéis menores. Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes traz nomes grandiosos e conhecidos do público como Viola Davis (Air: A História por trás do Logo, de 2023), Peter Dinklage (Cyrano, de 2021) e Jason Schwartzman (Asteroid City, de 2023). O trio comanda algumas das cenas mais poderosas e divertidas da narrativa, com destaque para Viola que vestiu a maldade de Dra. Volumnia Gaul de uma forma que é capaz de tirar o fôlego do fã.
O elenco mais jovem também não deixa a desejar. Ainda que com papéis menores, Hunter Schafer (Euphoria, de 2019-) e Josh Andrés Rivera (Amor, Sublime Amor, de 2021) não perdem a chance de deixar suas marcas em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. A delicadeza trazida por Tigris e a sua mudança de percepção de quem Snow está se tornando são essenciais para desenhar o arco do personagem de Blyth. Da mesma forma que a trajetória narrativa de Sejanus está diretamente ligada com as ações de Snow e da evolução da sua maldade.
Essa colcha de retalhos de acontecimentos da vida de Coriolanus Snow é conduzida pelas mesmas mãos que comandaram os três últimos filmes anteriores da franquia. Francis Lawrence retorna mais uma vez à Panem para mostrar essa história pouco explorada sobre o passado do arqui-inimigo de Katniss. Com uma direção ainda mais ousada, Lawrence eleva o nível de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes e cria momentos imagéticos interessantes que ficarão na memória dos fãs.
Ainda que sofra com a falta de força dos dois atores principais, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma história afiada e interessante a ponto de valer a pena apesar deles dois. Apesar da longa duração, a história tem um ritmo certeiro para prender o público a cada surpresa. Da mesma forma que a evolução dos personagens ao longo da história é uma mostra do poderio criativo da autora que, caso queira, pode facilmente prolongar a vida útil dessa franquia por anos, sem deixar que a qualidade da mesma caia.
Assista ao trailer de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes: