Crítica | Asteroid City mostra genialidade de Wes Anderson em sua melhor forma através de jornada metalinguística

Asteroid City (2023)

Nove anos após um dos seus mais aclamados filmes, Wes Anderson retorna aos cinemas com mais da sua genialidade encantadora. Asteroid City, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10), carrega a mesma potência que Grande Hotel Budapeste (2014), Moonrise Kingdom (2012) e Fantástico Sr. Raposo (2009). Apesar de ter uma filmografia extremamente coesa e costurada, Anderson atingiu seu pico de criatividade nesses longas-metragens e agora, com o lançamento de sua última produção, mais uma entra para esse hall de favoritas do diretor americano.

E é importante ressaltar que os dois últimos projetos que antecederam Asteroid City carregam as nuances tão características de uma obra andersoniana. Poucos conseguiram, no entanto, atingir a melhor forma do cineasta como os três longas citados e sua mais nova obra. A inusitada história do novo filme de Wes surpreende, diverte e encanta o espectador através de uma jornada metalinguística e existencial. Tudo isso sem perder o charme artístico e poético que é tão característico na carreira do realizador.

Asteroid City é uma pacata cidade num deserto americano. No ano de 1955, no dia do Asteroide, uma convenção dos Astrônomos Júnior/Cadetes do Espaço toma conta do lugar com estudantes de todo o país e suas famílias. A competição escolar de bolsas de estudos seria, ao que tudo indicava, tão pacato quanto sua cidade-sede. A extraordinária aparição de um alienígena, no entanto, surpreende à todos os presentes e muda o curso de seus próximos dias. Presos numa quarentena militar, todos se veem obrigados a refletirem sobre suas vidas e a existência na Terra.

O roteiro de Anderson surpreende desde o primeiro momento quando o espectador descobre que a jornada vai além do que é vendido nos trailers. A construção metalinguística da obra atravessa diferentes artes e toca o espectador num lugar íntimo. A reflexão sobre a existência e os caminhos que cada um deles seguia muda não apenas com a inusitada aparição extraterrestre, mas com esse jogo metalinguístico onde o que é visto na tela representa a arte da representação. Asteroid City consegue manter esse ânimo do primeiro minuto até a sua conclusão – que não poderia ser mais andersoniana.

Asteroid City (2023)
Cena de ‘Asteroid City’ (2023)

Como já esperado, a direção de Wes mantém as suas características tão conhecidas – como a simetria nos enquadramentos, as panorâmicas e os closes emocionais. O que chama atenção em Asteroid City não é o que o cineasta trouxe de novo no seu trabalho, mas como ele foi capaz de se reinventar. O jeito que Wes Anderson dirige está disseminado no conhecimento coletivo, mas o que o torna relevante e, principalmente, o que torna algumas de suas obras mais impactantes que outras é a forma como ele mergulha em cada uma dessas aventuras/dramas existencialistas e filosóficos. E, em seu último longa, o diretor conseguiu o mesmo êxito que no renomado Grande Hotel Budapeste.

Outro ponto de destaque da produção é seu elenco estelar. Com participações de usuais colaboradores, como Willem Daoe, Adrien Brody e Tilda Swinton, o novo projeto de Wes Anderson conta com Jason Schwartzman, Scarlett Johansson e Tom Hanks como os nomes mais conhecidos à frente de Asteroid City. Suas performances são certeiras e hipnotizantes, mas a mesma força se estende para o restante do elenco, em especial aos atores e atrizes que interpretaram os alunos da competição científica. O cineasta conseguiu, como usualmente o faz, captar momentos interessantes de cada uma de suas estrelas, dando ao filme ainda mais força.

Num momento ainda de dúvidas sobre quem serão os indicados das principais premiações do cinema, Asteroid City parece ser uma aposta promissora – em especial quando se fala da parte técnica. Fotografia, design de produção, figurino, direção e roteiro são os pontos fortes do projeto. Ainda que exista um longo caminho até as competitivas mais disputadas, o nome da pacata cidade ficcional americana deve ser citado nos principais prêmios da sétima arte. Independentemente do resultado que está por vir, o filme é inegavelmente uma das melhores produções da carreira do diretor e, acima de tudo, é uma sessão imperdível para quem quer se divertir com um filme leve, inteligente e divertido.

Assista ao trailer de Asteroid City:

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