Embarcar numa história tão conhecido para o universo do terror, como a de Drácula, é correr riscos. A probabilidade de ficar no lugar comum ou se repetir é alta e, por conta disso, a história do vampiro mais famoso da literatura caiu no esquecimento de novas produções nos últimos anos. No entanto, apesar do cansaço deixado pelas dezenas de adaptações do livro de Bram Stoker entre as décadas de 1970 e 1990, o fascínio pela mitologia vampiresca não se perdeu. Esse desejo por mais sangue rendeu inúmeros longas-metragens de sucesso, como a franquia adaptada Crepúsculo (2008-2012); as duas versões de Deixe-me Entrar (2008 e 2010); e até mesmo o cômico documentário fictício de Taika Waititi (Jojo Rabbit, de 2019, e Thor: Amor e Trovão, de 2022), O Que Fazemos nas Sombras (2014).
Diante desse cenário, o anúncio de uma nova adaptação direta do livro de Stoker levantou dúvidas e a principal foi ‘por quê’. O questionamento que perseguiu a produção de Drácula: A Última Viagem do Deméter só pode ser totalmente compreendido ao assistir o filme. No entanto, um fator já pode ser adiantado: o diretor. André Øvredal, diretor e roteirista norueguês, ficou conhecido com histórias de terror como A Autópsia (2016) e Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019). Em seu novo longa, que estreia nesta quinta-feira (24), o cineasta pôde escrever a sua carta de amor ao terror gótico dos anos 1930, que, décadas depois, foi lindamente representado por Francis Ford Coppola em Drácula de Bram Stoker (1992) – e o diretor claramente bebe de ambas as fontes.
Øvredal corre o risco de navegar por uma narrativa já conhecida – uma vez que o projeto é baseado em um capítulo do livro de Bram Stoker – para poder realizar essa obra um tanto saudosista. O resultado de sua direção é interessante e relembra uma qualidade de mistérios sobre deriva no mar e o horror da noite que há muito não se vê. A previsibilidade, no entanto, é um ponto negativo que é carregado do início ao fim de Drácula: A Última Viagem do Deméter. Por já saber o que acontece durante o trajeto do navio, é inevitável perceber que a produção se prolonga demais numa história que o público já sabe o final – ainda que os roteiristas Bragi Schut Jr. e Zak Olkewicz tenham tentado incrementá-lo.
Apesar desse excesso de tempo, o resultado de Drácula: A Última Viagem do Deméter é interessante e merece um olhar cuidado dos fãs do gênero. Ainda que não traga nada de inventivo ou de novidade para a trama, o filme entretém e prende o espectador. Mesmo tendo desnecessários 118 minutos, o tempo passa rápido à medida que o público embarca nos temores da tripulação. Mérito esse tanto dos roteiristas como do elenco que cumpre seu papel de forma certeira. Os excessos não estão na hiper dramatização dos feitos narrativos, mas na extensão de sua história.
Para ficar por dentro das principais informações sobre a cultura pop, siga @6vezes7 no Instagram e Twitter!
Ao observar Drácula: A Última Viagem do Deméter com mais cuidado, é inevitável perceber esse fascínio de quem está à frente do projeto por esse tipo de história. A maior qualidade da produção é justamente tornar algo já conhecido interessante. Esse poder de persuasão sobre o espectador ao contar uma das mais revisitadas narrativas do cinema de horror não deve ser esquecido. Evidente que isso não esconde a previsibilidade de certas cenas, mas a atmosfera continua ali, densa e aterrorizante, conquistando o público.
Para os fãs do gênero, o filme é uma revisão interessante de um tipo de ambiência saudosista e muito maltratada nos últimos anos. Ainda que se estenda mais do que precisa e não reinvente a roda em sustos, Øvredal entrega um resultado interessante e cuidadoso do ponto de vista de criador. Drácula: A Última Viagem do Deméter fica na memória como uma lembrança de um tempo que já se foi sobre uma história que nunca deixará de causar arrepios e de fascinar milhares de amantes do horror.
Assista ao trailer de Drácula: A Última Viagem do Deméter: