Análise | Entenda porquê Fale Comigo tem chocado o público com narrativa sobrenatural

Fale Comigo (2023)

A A24 já tem um reconhecimento dentro da indústria e, principalmente, com o público sobre o tipo de produções que faz. Com sucessos de bilheteria e indicações ao Oscar, a produtora chama atenção do espectador a cada lançamento e, quando o assunto é terror, parece instigar ainda mais. Após o sucesso da trilogia, ainda em produção, de Ti West (X e Pearl, ambos de 2022), o mais recente projeto da A24 que instigou o imaginário curioso dos fãs do gênero é Fale Comigo.

O longa-metragem, o qual estreia nesta quinta-feira (17), chega aos cinemas brasileiros com um intenso burburinho. O lançamento já é um dos filmes mais bem avaliados do ano pela crítica. Quando se fala de terror, Fale Comigo foi capaz de ultrapassar as avaliações de A Morte do Demônio: A Ascensão – tanto da crítica quanto do público -, o que parecia impensado há alguns meses. De onde vez este frenesi pelo primeiro longa dos irmãos Philippou – o qual já foi capaz de garantir uma sequência para a produção?

Primeiro é preciso falar sobre o que é a trama do projeto para se entender a fascinação por ela. Em suma, o foco central da narrativa é o luto de uma adolescente que perdeu a mãe e achou uma forma de se conectar com o outro lado, mesmo que isso coloque ela e outros em risco. Temas como contato com mortos, luto e irresponsabilidade juvenil não são novidade para o público e, muito menos, para o gênero. O terror foi forjado através de histórias que envolvem essa tríade, o que Fale Comigo faz, no entanto, é rearranjar essas premissas de forma interessante, não tão óbvia e, especialmente, emocional.

O maior diferencial do roteiro de Fale Comigo para outros longas de horror sobrenatural é o tempo usado pelos diretores australianos Danny e Michael Philippou para vender a história do luto familiar. O espectador conhece a jovem Mia (interpretada por Sophie Wilde), seus traumas e sua relação com amigos e família antes de mergulhar nas desventuras assustadoras que ela vai enfrentar. E, quando essas começam a acontecer, o público já está investido na história. Assim, até mesmo topos típicos do gênero passam de forma mais aceitável, ainda que não sejam tão inventivos.

Fale Comigo (2023)
Sophie Wilde em cena de ‘Fale Comigo’ (2023)

Evidentemente que os irmãos Philippou não pretendiam reinventar o subgênero com sua estreia e não o fazem. O que eles conseguem fazer, contudo, é formular uma história com cuidado suficiente a ponto de parecer diferente aos olhos do espectador. Logo, esse tempo dedicado às camadas dos personagens – tanto da principal como dos demais -, somado ao cuidado do uso dos topos do gênero e a construção de cenas mais violentas fizeram de Fale Comigo um projeto que impacta.

A preocupação narrativa se estende também aos departamentos que desenham a parte estética da produção e alcança ainda o elenco, conseguindo orquestrar o projeto de forma coesa. Inclusive, é esse grupo de intérpretes que cria, apesar de jovem e pouco conhecido, a identificação imediata com o espectador. E um dos elos mais importantes para a concretização do pacto público-filme é a identificação. É o elenco brilhante que, através do cuidadoso roteiro de Danny Philippou e Bill Hinzman, consegue selar esse acordo em seus minutos iniciais. E é essa conquista que faz com que o espectador já esteja verdadeiramente envolvido com a história de Fale Comigo quando ela começa a se tornar cada vez mais sombria.

A equação se completa, portanto, quando se analisa os pontos principais de uma narrativa. A direção, o roteiro e o desenvolvimento dos personagens é amarrado a ponto de elevar o terror apresentado. Durante os 95 minutos de Fale Comigo, a produção é capaz de colocar o público na montanha-russa de sentimentos que ele precisa. O filme vai assustar, emocionar e, em alguns momentos, vai fazer com que o espectador não queira sequer olhar para a tela do cinema diante de tamanho horror.

Assista ao trailer de Fale Comigo:

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