A A24 já tem um reconhecimento dentro da indústria e, principalmente, com o público sobre o tipo de produções que faz. Com sucessos de bilheteria e indicações ao Oscar, a produtora chama atenção do espectador a cada lançamento e, quando o assunto é terror, parece instigar ainda mais. Após o sucesso da trilogia, ainda em produção, de Ti West (X e Pearl, ambos de 2022), o mais recente projeto da A24 que instigou o imaginário curioso dos fãs do gênero é Fale Comigo.
O longa-metragem, o qual estreia nesta quinta-feira (17), chega aos cinemas brasileiros com um intenso burburinho. O lançamento já é um dos filmes mais bem avaliados do ano pela crítica. Quando se fala de terror, Fale Comigo foi capaz de ultrapassar as avaliações de A Morte do Demônio: A Ascensão – tanto da crítica quanto do público -, o que parecia impensado há alguns meses. De onde vez este frenesi pelo primeiro longa dos irmãos Philippou – o qual já foi capaz de garantir uma sequência para a produção?
Primeiro é preciso falar sobre o que é a trama do projeto para se entender a fascinação por ela. Em suma, o foco central da narrativa é o luto de uma adolescente que perdeu a mãe e achou uma forma de se conectar com o outro lado, mesmo que isso coloque ela e outros em risco. Temas como contato com mortos, luto e irresponsabilidade juvenil não são novidade para o público e, muito menos, para o gênero. O terror foi forjado através de histórias que envolvem essa tríade, o que Fale Comigo faz, no entanto, é rearranjar essas premissas de forma interessante, não tão óbvia e, especialmente, emocional.
O maior diferencial do roteiro de Fale Comigo para outros longas de horror sobrenatural é o tempo usado pelos diretores australianos Danny e Michael Philippou para vender a história do luto familiar. O espectador conhece a jovem Mia (interpretada por Sophie Wilde), seus traumas e sua relação com amigos e família antes de mergulhar nas desventuras assustadoras que ela vai enfrentar. E, quando essas começam a acontecer, o público já está investido na história. Assim, até mesmo topos típicos do gênero passam de forma mais aceitável, ainda que não sejam tão inventivos.
![Fale Comigo (2023)](http://6vezes7.com.br/wp-content/uploads/2023/08/Fale-Comigo-3-1024x683.jpg)
Evidentemente que os irmãos Philippou não pretendiam reinventar o subgênero com sua estreia e não o fazem. O que eles conseguem fazer, contudo, é formular uma história com cuidado suficiente a ponto de parecer diferente aos olhos do espectador. Logo, esse tempo dedicado às camadas dos personagens – tanto da principal como dos demais -, somado ao cuidado do uso dos topos do gênero e a construção de cenas mais violentas fizeram de Fale Comigo um projeto que impacta.
A preocupação narrativa se estende também aos departamentos que desenham a parte estética da produção e alcança ainda o elenco, conseguindo orquestrar o projeto de forma coesa. Inclusive, é esse grupo de intérpretes que cria, apesar de jovem e pouco conhecido, a identificação imediata com o espectador. E um dos elos mais importantes para a concretização do pacto público-filme é a identificação. É o elenco brilhante que, através do cuidadoso roteiro de Danny Philippou e Bill Hinzman, consegue selar esse acordo em seus minutos iniciais. E é essa conquista que faz com que o espectador já esteja verdadeiramente envolvido com a história de Fale Comigo quando ela começa a se tornar cada vez mais sombria.
A equação se completa, portanto, quando se analisa os pontos principais de uma narrativa. A direção, o roteiro e o desenvolvimento dos personagens é amarrado a ponto de elevar o terror apresentado. Durante os 95 minutos de Fale Comigo, a produção é capaz de colocar o público na montanha-russa de sentimentos que ele precisa. O filme vai assustar, emocionar e, em alguns momentos, vai fazer com que o espectador não queira sequer olhar para a tela do cinema diante de tamanho horror.
Assista ao trailer de Fale Comigo: