A adaptação para anime de Uzumaki, baseada no famoso mangá de Junji Ito, prometia ser uma obra singular dentro do gênero de terror, mas, infelizmente, se tornou uma das maiores decepções dos últimos anos. O projeto, anunciado em 2019, passou por vários adiamentos, o que só aumentou a expectativa dos fãs, especialmente com o lançamento do trailer em 2022. A proposta visual do anime, que seria em preto e branco, parecia um passo ousado e respeitoso à obra original, uma tentativa de capturar o estilo único do traço de Ito, conhecido por sua mistura entre o grotesco e o delicado. No entanto, essa tentativa falhou em vários aspectos cruciais.
A primeira impressão do anime é positiva, com o preto e branco contribuindo para a atmosfera sombria e inquietante da história. A ideia de mesclar animação 2D e 3D parecia promissora, com o objetivo de aumentar a profundidade e o terror visual, algo que se esperava capturar a essência do mangá. Contudo, essa escolha técnica acabou sendo mal executada. A animação se torna travada logo após o primeiro episódio, prejudicando a tradição e criando uma experiência visual desconfortável, mas não de uma maneira propositalmente aterrorizante. O uso do 3D, que poderia ter sido um diferencial, resulta em algo estranho e mal acabado, principalmente a partir do segundo episódio, que marca um ponto baixo em termos de qualidade.
Assista ao trailer do anime
Outro problema grave é a forma como a narrativa foi tratada. O mangá original de Uzumaki construiu seu terror de maneira progressiva, com cada capítulo trazendo uma nova e bizarra história que vai mergulhar o leitor mais profundamente na espiral do horror. No anime, porém, a escolha de fazer com que várias histórias aconteçam simultaneamente desorganiza o enredo, diminuindo o impacto que cada conto deveria ter. A sensação de estranhamento e surpresa, fundamental para uma experiência de terror, é perdida quando muitos elementos são jogados ao mesmo tempo na tela, deixando o espectador apático ao que se desenrola.
LEIA TAMBÉM >>> Resenha | Uzumaki, de Junji Ito, é o absurdo se tornando apavorante
Além disso, a adaptação sofreu cortes drásticos no conteúdo do mangá. Embora seja compreensível que uma adaptação precisa de ajustes, aqui as mudanças enfraqueceram a obra. Aspectos fundamentais da narrativa foram removidos ou apressados, comprometendo o desenvolvimento da trama e dos personagens. O anime foi limitado a apenas quatro episódios curtos, com durações entre 20 e 30 minutos, o que é insuficiente para contar especificamente a história de Uzumaki. A profundidade e o crescente desconforto que o mangá proporcionou foram sacrificados em uma adaptação que parece ter sido apressada e mal planejada.
Uzumaki é um exemplo frustrante de uma adaptação que prometeu muito, mas entregou pouco. Apesar da escolha interessante estética de manter o preto e branco, a falha técnica de execução, a narrativa mal estruturada e a curta duração transformam essa adaptação em uma experiência frustrante. A obra de Junji Ito, conhecida por seu terror psicológico e visual marcante, merece uma adaptação que respeite mais seu ritmo e construção.
Para ficar por dentro das principais informações sobre a cultura pop, siga @6vezes7 no Instagram, TikTok e Twitter!
