Crítica | Renfield é uma cômica revisitação do primeiro monstro do horror que funciona, apesar do seu exagero

Renfield (2023)

Em 1922, o mundo vislumbrou a primeira adaptação cinematográfica do que viria a ser um dos monstros que mais inspirou filmes no universo do horror. Nosferatu (1922), dirigido por F.W. Murnau, mudou a forma de se fazer cinema – principalmente o de gênero. A aparição do Drácula nas telonas marcou os últimos 100 anos da sétima arte. Desde então dezenas de filmes já foram produzidos, dentro e fora do horror, a partir da história original do vampiro imortalizado pelo escritor Bram Stoker.

Drácula (1931), A Hora do Espanto (1985), Quando Chega a Escuridão (1987), Drácula de Bram Stoker (1992), Cronos (1993), Entrevista com o Vampiro (1994) e a saga Crepúsculo (2008-2012) são alguns dos longas-metragens que sucederam o filme expressionista alemão de Murnau. A infinidade de produções acerca do monstro reforçam o quanto o público ainda gosta de consumir esse tipo de projeto. E não é por menos que, recentemente, a Universal Pictures decidiu contar a história sob uma nova perspectiva.

Bebendo de projetos que misturavam o horror com a comédia, como Drácula – Morto Mas Feliz (1995) e O Que Fazemos nas Sombras (2014), Renfield – Dando Sangue pelo Chefe chega aos cinemas para integrar o hall de produções sobre vampiros. Com os moldes do terrir (subgênero que mescla as bases do terror com a comédia), a estreia da semana chega aos cinemas brasileiros recheado de sangue, piadas e ação. O longa, que estreia nesta quinta-feira (27), investe fortemente num tom cômico absurdo que flerta com o besteirol.

Sob essa lógica, Renfield é uma produção que dividirá opiniões. Seu humor fortemente marcado não conquistará todos os amantes de horror. No entanto, para quem gosta de um bom besteirol, esse é recheado de exagero, sangue e piadas. Além, é claro, de ter a presença hilária de Nicolas Cage (Pig, de 2021, e O Peso do Talento, de 2022) como o Conde Drácula. Ainda que peque pelo excesso em alguns momentos, o filme já vale a pena pelo trabalho de Cage em cena.

Para completar o time de peso no quesito comédia, Renfield ainda conta com Nicholas Hoult (Fênix Negra, de 2019, e O Menu, de 2022), Awkwafina (A Despedida, de 2019, e Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, de 2021) e Ben Schwartz (Operação Supletivo – Agora Vai!, de 2018, e Sonic 2 – O Filme, de 2022) no elenco. Hoult está impecável como o servo do vampiro que tenta, a qualquer custo, se desvincular da influência nefasta e abusiva do seu chefe. Além dele, Awkwafina e Schwartz completam o elenco da comédia para entregar uma obra estranhamente divertida.

Nesta versão, o roteiro leva o público numa jornada moderna que mescla o horror do monstro clássico com os desafios da atualidade. Assim, o texto de Ryan Ridley elabora bem sua sucessão de desventuras que conduzem o protagonista e antagonista ao aguardado confronto final. Mas antes, para a alegria dos fãs de comédias besteirol ou de gore, Renfield é recheado pelos dois.

Para completar a tríade atuação, roteiro e direção, o estadunidense Chris McKay (LEGO Batman: O Filme, de 2017, e A Guerra do Amanhã, de 2021) assume a linha de frente da produção como diretor dessa ode ao horror. Ele claramente coloca sua experiência pregressa da comédia em prática, sem perder de vista a importância dos elementos do horror. E ainda é responsável por recriar algumas clássicas referências do gênero. Essa união entre o exagero e a tensão parece ser a fórmula do sucesso de Renfield.

Esse emaranhado de referências, piadas, sangue e tripas formam um produto diferente, no mínimo. E esse caráter de unicidade é o maior responsável pela longa vida que o filme deve ter. O jeito que Renfield parece não se levar a sério ao mesmo tempo que decide investir em elementos clássicos de cinema é espantoso. Ver a materialidade dos absurdos que o espectador embarca se tornarem críveis diante daquela proposta é surpreendente e é um dos maiores méritos da produção.

Por fim, Renfield chama a atenção por ser um longa que carrega um legado, nomes de peso e, ainda com tudo isso, se permite ir para além da zona de conforto. Pelo contrário, a produção faz questão de ser o exagero, de causar – e com certeza irá causar diversos desafetos. No entanto, é impossível negar que, mesmo com o absurdo, existem momentos divertidos na trama. Da mesma forma que não há como deixar de ficar hipnotizado pela potência de Cage como Drácula.

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