Crítica | Fale Comigo sabe exatamente como fazer horror

Cair em um terreno tão explorado quanto os filmes de invocação demoníaca tende a ser um passo fadado a monotonia e o fracasso. É por isso que considero Fale Comigo (Talk to Me – título original) como um ponto fora da curva quando consegue subverter as baixas expectativas em meio a saturação do gênero e entregar um horror carregado de tensão; intercalando com maestria momentos de angústia, terror psicológico e cenas visualmente chocantes.

Um grupo de jovens australianos passa a organizar festas para se comunicar com o plano espiritual. Estamos sob a perspectiva de Mia (Sophie Wilde), uma garota que perdeu a mãe e vive junto a outra família enquanto tem resistência na relação com o pai, e vemos as complicações surgirem quando as regras do “jogo” são desobedecidas e os espíritos se apropriam dos hospedeiros.

Assista abaixo ao trailer dublado de Fale Comigo:

Desde abandonar o tabuleiro ouija e adotar um novo totem, o longa já mostra nos mais sutis detalhes os pequenos traços de revitalização, que unidos tornam sua experiência marcante, fugindo da massa de produções nesse estilo que parecem surgir diretamente de uma fábrica. É com essa assertividade que o estúdio A24 vem estabelecendo cada vez mais solidez e adquirindo a confiança dos fãs.

Apesar de a partir o pontapé inicial o filme já exibir sua faceta mais impactante em uma sequência pra lá de perturbadora, as camadas dos personagens e as críticas sociais são outros fatores que rapidamente chamam a atenção. É trabalhoso conseguir desenvolver o conto de maneira tão orgânica sem passar a sensação de que está “querendo parecer inteligente”. O filme funciona por si só, independente da observação de sua complexidade.

Espetacularização do trágico, abuso das redes sociais e traumas são elementos devidamente empregados para dar profundidade aos personagens e ao enredo. Ninguém fica com o aspecto de “perdido” na trama, cada figura tem seu espaço e é relevante para movimentar a história. Recebemos um núcleo adolescente que não são frutos de figuras estereotipadas, cada qual dispondo de características singulares e cumprindo uma função narrativa.

Com boas atuações que exprimem os sentimentos de medo, aflição e incerteza; o longa nos desperta curiosidade e inquietação, uma vez que não sabemos com precisão o que é verdade ou até mesmo realidade. Seja sobre a origem do artefato ou em relação as regras para o contato com o as entidades, tudo se sucede de modo propositalmente impreciso, traduzindo ao público a desorientação de quem vive naquele universo.     

Ter sua sequência confirmada com tanta rapidez não é por acaso, a produção é indiscutivelmente um dos melhores filmes de terror do ano! Unir horror com uma dose de drama traz uma abordagem diferenciada e diverte saindo do superficial. Uma narrativa que recupera a essência do subgênero, mas trazendo renovação e deixando o público na ponta da cadeira com direito àquelas viradas de rosto no cinema.

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