Crítica | A Noite das Bruxas é o melhor filme com detetive Poirot, ainda que recaia em deslizes do passado

A Noite das Bruxas (2023)

Adaptações literários no cinema costumam mexer com elementos delicados de uma produção. Fãs, autores originais, barganhas narrativas, fidelidade ou não ao texto original. Esses são os principais elementos que pairam na cabeça do público quando uma obra adaptada é anunciada. Em alguns casos, o resultado é formidável como na franquia Jogos Vorazes (2012-2015). Já em outros, o público não consegue aceitar o tanto de adaptações feitas na narrativa, como na saga Divergente (2014-2016). O reflexo disso é visto nas críticas e bilheterias que categoricamente apontam essa insatisfação.

Essa característica, no entanto, não é específica apenas para adaptações de histórias dispóticas. Um suspense, por exemplo, pode ser alvo de altas críticas quanto à sua qualidade ou não de adaptar uma obra original. Um bom exemplo para falar dessa gangorra de opiniões são as adaptações recentes dos livros da autora britânica Agatha Christie. A dama do suspense literário tem sido recentemente adaptada para os cinemas sob o comando do ator, diretor, produtor e roteirista Kenneth Branagh. A Noite das Bruxas, o mais novo filme baseado nas histórias da autora, chega aos cinemas nesta quinta-feira (14).

O longa-metragem é o terceiro projeto numa série de adaptações de conhecidas obras as quais têm Hercule Poirot como personagem principal. O famoso detetive ficcional, interpretado pelo próprio Branagh, aparece numa terceira aventura cinematográfica. Os capítulos anteriores foram Assassinato no Expresso Oriente (2017) e Morte no Nilo (2022) que, apesar do sucesso, tiveram muitas críticas justamente pelo distanciamento do texto original. O público precisa, então, se preparar para o que vem com a estreia de A Noite das Bruxas.

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A Noite das Bruxas (2023)
Cena de ‘A Noite das Bruxas’ (2023)

O filme carrega apenas a ideia central da obra como base. As nuances estilísticas e condutoras da produção abrem mão do livro e tomam liberdades. Liberdades essas que, dessa vez, valeram a pena. Apesar de cometer deslizes já vistos nos seus antecessores, A Noite das Bruxas é o mais interessante dos três filmes adaptados da bibliografia de Christie. A ideia de colocar um toque de terror sobrenatural foge completamente da linha christieana de escrita, na tela, contudo, trouxe um quê a mais de excitação para a narrativa.

Em contrapartida, os filmes estrelados pelo detetive Poirot mesclam novidades com uma majoritária fidelidade aos livros. Assassinato no Expresso Oriente sofre por ser a história mais batida da autora. Uma vez que se vê aquilo tudo em tela, o frenesi original não é o mesmo – ainda que o primeiro longa tenha qualidade e seus méritos. Já Morte no Nilo é uma tragédia como narrativa. Sua trama é excessivamente extensa e os artifícios utilizados para prender o espectador são repetitivos e cansativos. Em A Noite das Bruxas é diferente. Aqui existe algo que apela ao público.

A direção de Branagh sempre se mostrou interessante, mas o ambiente de abandono e solidão desta narrativa fizeram com que ele entregasse algo ainda melhor. Ainda que com exageros, A Noite das Bruxas talvez seja sua melhor contribuição para as adaptações dos mistérios de Christie. O ambiente de tensão constante, apesar de certos exageros em alguns momentos, ajudam a manter a nuance sobrenatural como algo interessante.

É importante, no entanto, não chegar para assistir ao filme com a expectativa de ver um terror. A história segue como um mistério em cima dos eventos curiosos de uma noite de dia das bruxas. Os toques sutis de tensão sobrenatural são usados pelo roteirista Michael Green como alicerce estrutural da sua adaptação. Dessa forma, A Noite das Bruxas traz uma sacada interessante que revigora a franquia envolvendo investigações de Hercule Poirot.

A atmosfera de tensão, atrelada à direção de Branagh, e a potência do novo elenco estelar fazem o filme capaz de prender o público como fez o primeiro longa. A produção, ainda que se distancie da obra original, usa a sua base narrativa para construir o mistério que Poirot precisava para se recuperar depois do fracasso do seu antecessor. Assim, A Noite das Bruxas entrega uma sessão com redondos 103 minutos de duração que prendem o público e o divertem com o retorno do trabalho investigativo de Poirot.

Assista ao trailer de A Noite das Bruxas:

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