Subverter as expectativas é um artifício muito funcional para trazer à tona toda a capacidade de uma produção de horror. Uma dessas aplicações acontece quando o sagrado se confunde com o impuro, momento em que geralmente nos vemos perdidos na trama, sem saber em quem confiar ou qual lado representa o bem. Essa contradição é uma receita quase infalível para deixar nossos pensamentos vulneráveis e fazer com que a tensão e ansiedade se ampliem enquanto o medo aflora. O Convento até tenta explorar esses mecanismos, infelizmente falha e só entrega um grande “quase”.
A premissa mistura elementos de algumas obras do gênero que ganharam notoriedade recentemente, como A Freira e O Exorcismo Sagrado. Após a morte de seu irmão em um convento na Escócia, Grace (Jena Malone) decide viajar ao local para dar o último adeus e tentar descobrir as reais circunstâncias do misterioso acontecimento.
Assista abaixo ao trailer dublado de O Convento:
É a partir desse pressuposto que o projeto ganha forma e tenta se distanciar dos clichês com uma crítica ao fanatismo das instituições religiosas. O problema mais uma vez está na execução do recurso, que trata os personagens como totais neandertais, sem dar profundidade alguma, são meros instrumentos narrativos que servem para levar a enredo de um ponto a outro. As ações dos membros da seita são totalmente ilógicas e quando não há empatia, o peso dos acontecimentos recebe um impacto muito menor e o interesse começa a diminuir.
Por mais que o mistério a princípio possa aguçar a curiosidade do público, a verdade é que o longa em nenhum momento consegue emplacar um ritmo adequado para nos deixar devidamente empolgados. Há uma tentativa de ser cadenciado que acaba tornando o filme monótono e graças a sua pouca duração não consegue desenvolver os arcos a um ponto convincente. Várias boas ideias são jogadas, mas absolutamente nenhuma é bem executada e a obra cai em um plano muito raso.
A falta de ritmo também prejudica a experiência quanto a revelação dos plots. As reviravoltas são claramente prenunciadas e quando finalmente são expostas em cena, já não há mais nenhuma surpresa, pois o filme já nos deu várias pequenas dicas do que estaria por vir. As pistas também são apresentadas da forma mais brega, abusando dos flashbacks enquanto possível, sem relutar.
Nem mesmo a direção consegue manter um bom nível e a obra oscila entre terror e suspense de modo pouco natural. No mais, é uma produção que não faz sentido; sua pseudocrítica é destruída pela artificialidade do roteiro com diálogos banais e decisões plenamente questionáveis dos personagens. O Convento não é uma tragédia total e tem lá seus momentos competentes, mas que acredito não serem suficientes para balancear os problemas e entregar um bom filme.