Cinebiografias têm se tornado uma febre nas principais produtoras de audiovisual nacional. Do meado dos anos 2010 para cá, inúmeros artistas foram vividos nas telonas para mais uma vez encantar seus fãs. Só neste ano, três grandes filmes do subgênero chegam aos cinemas: Nosso Sonho: A História de Buchecha com Claudinho, Mamonas Assassinas – O Impossível Não Existe e Meu Nome é Gal. O último é o mais recente lançamento que já encantou o público Brasil afora com suas pré-estreias. O longa-metragem, que estreia nesta quinta-feira (12), traz uma forma diferente de contar a história da maior voz do país.
Lô Politi (Jonas, de 2015, e Alvorada, de 2021) e a estreante Dandara Ferreira conduzem essa obra sensível e poderosa sobre a Tropicália e a transformação de Gracinha no símbolo musical e revolucionário que é Gal Costa. O fragmento escolhido pelas co-diretoras para guiar a narrativa de Meu Nome é Gal é um período de virada na carreira da cantora baiana. É a partir das vivências e descobertas pessoais e artísticas que o público vê uma Gal desabrochar e sair em busca do seu lugar como marco musical de uma nação.
A difícil missão de interpretar uma das maiores vozes do país ficou com Sophie Charlotte. A atriz conseguiu, no entanto, ultrapassar os obstáculos de Meu Nome é Gal e entregou uma performance belíssima. Diferente de outras cinebiografias (nacionais ou internacionais), não há mimese de nada e nem ninguém nesta trama. O que existe é uma dedicação tamanha a ponto de hipnotizar o público com o encanto de cada uma das descobertas de Maria da Graça.
Os louros da interpretação de tantas figuras marcantes e célebres da música popular brasileira se estendem também ao restante do elenco, em especial a Luis Lobianco, Dan Ferreira (Medida Provisória, de 2020), Rodrigo Lelis e Chica Carelli. Talvez o maior acerto de Meu Nome é Gal seja seu elenco. Ao lado de Sophie, cada um desses artistas eleva a história para outro patamar. Eles negam a ideia caricatural que costuma dominar esse tipo de projeto e trazem trejeitos e nuances assustadoramente similares às figuras reais e, ao mesmo tempo, tornam tão suas.
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É essa performance inebriante do elenco que faz com que as 2h passem num piscar de olhos – além, é claro, das canções de Gal. E também são eles que conseguem contornar certas escolhas de Meu Nome é Gal que não soam como as melhores possíveis. Como a indecisão entre assumir a voz (surpreendentemente potente) de Sophie Charlotte ou seguir a mesma linha usada em Elis (2016) de dublagem da voz original. Em alguns momentos, isso passa despercebido pela alegoria criada pela direção, fotografia e arte. Em outros, isso gera um incômodo, como se a produção não tivesse a coragem de investir na decisão de Sophie assumir a voz.
Outro ponto que pode gerar algum tipo de incômodo é o recorte do longa. Ainda que seja uma ideia inteligente em recortar uma vida, em vez de tentar mostrar cada uma de suas etapas e se perder no caminho, o momento onde o público consegue ver essa nova Gal é muito curto. Dá um gostinho de quero mais que pode amargar parte dos espectadores. Isso, contudo, não tira a potência de Meu Nome é Gal e muito menos impede que o fã perceba a virada que acontece na vida da artista durante o auge da ditadura.
Pensando sobre o que a produção faz ecoar na mente do espectador, é engraçado perceber como o filme consegue ser intimista sem ser tímido. Existe um foco ferrenho nas ligações afetivas de Gal, especialmente em seus amigos e conterrâneos, Gilberto Gil (interpretado por Dan Ferreira) e Caetano Veloso (interpretado por Rodrigo Lelis), e em sua mãe, dona Mariah Costa Penna (interpretada por Chica Carelli). Mesmo que alguns vejam isso como um problema, é esse foco nas relações – principalmente essas três – que fazem de Meu Nome é Gal um longa potente e verdadeiro.
Existe outro ponto que é latente no projeto. A ausência de Gal Costa na linha de chegada da produção é um fator que ressoa no resultado do filme. Não só pelas mudanças feitas na finalização do longa após a morte da cantora, mas pelo projeto transbordar o sentimento de homenagem e saudade. É um filme que, num primeiro momento, parece ser tímido, mas, na verdade, é capaz de falar mais sobre sua personalidade central do que a maioria das produções do subgênero. Meu Nome é Gal é uma verdadeira carta de amor a uma das maiores vozes que já existiu no Brasil e Sophie Charlotte mostra isso em cada cena.
Assista ao trailer de Meu Nome é Gal: