Um bom filme pode ser definido por diferentes perspectivas, não necessariamente uma boa execução técnica é suficiente para trazer satisfação. A pergunta a ser feita aqui é o que Coringa: Delírio a Dois agrega ao seu antecessor e a qualquer um que o assistir, sendo ou não fã da franquia. Uma direção ímpar, fotografia de mais alto nível, performances musicais impecáveis e até uma animação bem criativa. Tudo isso é capaz de mascarar a falta de propósito e um enredo raso?
Uma gama de cenas encantadoras, principalmente envolvendo as exibições de Joaquin Phoenix e Lady Gaga, mas que não só não se justificam em tela, como também na maioria das vezes estabelecem uma quebra no roteiro. O longa até estabelece uma relação entre os devaneios do Coringa com a trama principal do julgamento, mas ainda assim, os trechos musicais saltam à tela com uma frequência maior que o que nos convém até começar a parecerem forçadas, como se fosse o único artifício que o projeto tinha para entregar.
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E verdade seja dita, este era um produto com muito mais “pano pra manga”. A Lady Gaga está extremamente subutilizada como Arlequina, funcionando basicamente como um mecanismo de pontapé inicial para as mudanças de Arthur Fleck, contudo sua presença ainda se valida pela grande quantidade de sequências de cantoria e apelo artístico da obra. Phoenix, por sua vez, recebe ainda mais destaque e é incontestável no papel. Por mais que não tenhamos mais a surpresa de vê-lo viver o Joker pela primeira vez, é satisfatório acompanhá-lo novamente explorando as nuances de Arthur até reincorporar de vez sua outra personalidade.
Como impressão final, parece que deram uma tela em branco e total liberdade para o diretor Todd Phillips, decisão que geralmente não costuma dar grandes resultados. Há uma ruptura definitiva com o pouco que havia restado de vínculo com o subgênero de heróis, mas ironicamente, é aqui que a franquia mergulha de vez no âmbito do imaginativo. As críticas sociais estão menos presentes, dando lugar a uma reflexão mais individualizada sobre a persona de Arthur e sua possível reinserção à sociedade.
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Joker: Folie à Deux (no título original) pode desapontar por não seguir o caminho traçado a partir do sucesso do longa de 2019, no entanto ainda fica longe de ser um filme ruim. Com um ritmo extremamente cadenciado e pouco progresso narrativo, o filme aposta em uma experiência visual, sensorial, e, principalmente, no envolvimento do espectador com as oscilações de identidade do protagonista. Apesar de um produto final excessivamente contemplativo, a obra ainda carrega consigo bons momentos em uma proposta para lá de ousada e audaciosa.
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