Um exemplo de como o cinema nacional pode inovar e explorar o gênero do horror é o lançamento da produção capixaba Prédio Vazio, que apesar das limitações de produção, busca forças em suas escolhas estéticas e narrativas. Sem recorrer aos clichês mais conhecidos do terror convencional, o longa tenta provocar inquietação através de uma abordagem mais crua, urbana e sensível, refletindo dramas reais em um cenário envolto por elementos sobrenaturais.
Na trama, acompanhamos Luna (Lorena Corrêa), uma jovem que parte de casa procurando a mãe desaparecida (interpretada por Rejane Arruda) no carnaval de Guarapari. Lá ela encontra um prédio aparentemente abandonado, onde eventos macabros passam a ocorrer. Ao mesmo tempo em que lida com tensões cotidianas e antigas feridas familiares, ela começa a perceber presenças e figuras que desafiam sua sanidade. Gilda Nomacce dá vida a exótica anfitriã do hotel e aos poucos revela segredos sombrios do local.
Assista o trailer de Prédio Vazio:
Talvez o maior trunfo do longa esteja justamente no desenvolvimento da relação entre mãe e filha, que vai sendo destrinchada aos poucos. A protagonista ostenta personalidade e desvia de qualquer caráter genérico, carregando força e intensidade que ajudam a guiar a narrativa mesmo nos momentos em que o enredo diminui o ritmo. A atuação entrega nuances importantes e a maneira como os conflitos familiares vão se entrelaçando com o terror físico e psicológico fortalece o arco dramático.
Apesar de algumas deficiências técnicas mais evidentes (como alguns efeitos visuais que soam artificiais ou planos acelerados pouco dinâmicos), a direção compensa com criatividade e sensibilidade na condução das cenas. Diante de uma maquiagem prática e eficaz, uso inteligente das sombras e o capricho no design de som, a tensão segue crescente por toda a obra. Ainda que existam personagens coadjuvantes subaproveitados, como o namorado da protagonista, sua presença ajuda a destacar traços da protagonista e ampliar a compreensão das suas decisões enquanto demonstra sutis variações entre fragilidade e bravura.
O saldo de Prédio Vazio revela uma obra que se sustenta principalmente pela construção dos seus personagens e vínculo emocional que a protagonista estabelece com a mãe e o reflexo disto no espectador. Uma produção que merece atenção não só por ser mais um passo importante no fortalecimento do terror brasileiro, mas também por ser uma história intimista que se comunica bem com o público. A partir do entendimento de suas limitações, a aposta segue no roteiro e ambientação como eixos principais. No fim das contas, oferece uma experiência honesta e como um bom terror, faz um bom trabalho dosando o desconforto e aflição em cena.
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