O humorista brasileiro Chico Anysio dizia que uma das principais funções do humor era fazer denúncias e, às vezes, até podia ser engraçado. E o filme francês o Crime é Meu segue bem essa linha de pensamento. A obra se passa nos anos 1930, mas entrega uma trama com discussões bastante atuais, utilizando da boa comédia para trazer reflexões ao espectador enquanto arranca boas risadas.
Com uma história simples, o seu principal trunfo é o roteiro bem escrito, a ponto de que, em determinado momento, realmente ficamos balançados, como se perdêssemos a noção do bem e do mal.
Entregar uma comédia espontânea não é tarefa fácil, mas aqui, tudo parece acontecer de forma natural, similar a uma conversa entre amigos. Ao mesmo tempo, a narrativa provoca o pensamento crítico a cada nova cena, trazendo em sua pauta questões como direito das mulheres e denúncias contra abusos sexuais, temas delicados que não parecem ter espaço num filme que propõe fazer rir, mas não é o caso aqui.
O Crime é Meu dá aula de charme e irreverência, sem medo de parecer brega ou caricato por conta de seus exageros, lembrando, em vários pontos, o brasileiro O Auto da Compadecida. Seus personagens são muito bem aproveitados, com todo o elenco entregando um show de atuação, elevando o nível do humor à medida em que o filme passa.
O filme francês começa e termina muito bem, aproveitando ao máximo todo o seu potencial. É engraçado, crítico e um ótimo entretenimento. O longa já está em cartaz nos cinemas brasileiros.