Crítica | ‘Cidade de Deus: A Luta Não Para’ funciona para além do filme e oferece uma trama cativante e reflexiva

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A série Cidade de Deus: A Luta Não Para surge com a difícil missão de dar continuidade ao que é, indiscutivelmente, um dos filmes mais icônicos do cinema brasileiro, Cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando Meirelles. Ao invés de apenas se apoiar no sucesso de seu predecessor, a série busca se distanciar das amarras da narrativa original e trilhar um caminho próprio, algo que realiza de forma surpreendente ao longo de seus seis episódios.

Desde o início, A Luta Não Para acerta ao contextualizar rapidamente o que aconteceu com os personagens do filme, ao mesmo tempo em que introduz novas figuras que expandem e enriquecem o universo narrativo. Ao invés de repetir a fórmula de ação frenética e violência gráfica que caracterizou o filme de 2002, a série opta por uma abordagem mais política e reflexiva, sem deixar de capturar a tensão e os dramas sociais presentes na favela. Essa decisão é corajosa e assertiva, e a trama se desenrola com uma narrativa bem elaborada, que lida com questões como injustiça social, corrupção e o papel da mídia.

Se um dos principais debates gerados pelo filme original era sobre sua representação da violência e a crítica à glamourização do crime, Cidade de Deus: A Luta Não Para segue o caminho inverso. A série mergulha em um contexto mais militante e político, abordando a desigualdade estrutural e a manipulação social de maneira contundente, quase didática, mas sem soar panfletária. Aqui, o trabalho do diretor Aly Muritiba (Cangaço Novo), que também assina o roteiro, se destaca por seu controle narrativo e capacidade de manter o público engajado ao longo de uma jornada que, embora menos violenta, não é menos impactante.

Assista ao trailer de Cidade de Deus: A Luta Não Para

Os atores merecem aplausos, especialmente Alexandre Rodrigues, que retorna como Buscapé, agora um fotojornalista mais maduro e ciente do mundo ao seu redor. Seu protagonismo na série adiciona uma nova camada ao personagem que já conhecíamos, mostrando suas lutas para retratar a verdade em um ambiente cada vez mais hostil. O arco de Buscapé reflete um Brasil ainda mergulhado em conflitos sociais, mas também é um testemunho do poder da imprensa e do papel transformador da fotografia na sociedade.

Outras grande revelações são Barbantinho e Berenice, interpretados por Edson Oliveira e Roberta Rodrigues, que tiveram pouca relevância no filme, mas assumem aqui um papel central. Ambos emergem como figuras de liderança dentro da comunidade, lutando pelos seus, e que ganham o destaque merecido na trama. Ao lado de outros personagens antigos e novos, como Braddock (Thiago Martins) e Lígia (Eli Ferreira), a série constrói um elenco diversificado e multifacetado, que amplia o alcance da narrativa.

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Apesar de ser uma continuação, a série não depende exclusivamente de referências ao filme para manter sua relevância. A Luta Não Para sabe como se sustentar por conta própria, com um roteiro inteligente que faz homenagens sutis, mas sem cair na tentação de se repetir. As alusões ao filme de 2002 são bem colocadas, reconhecendo a história anterior sem que isso seja o foco central.

No entanto, quando comparada ao filme original, alguns aspectos técnicos da série, como fotografia e edição, podem parecer menos impressionantes. Enquanto Cidade de Deus foi celebrado mundialmente por suas técnicas inovadoras e estética visual marcante, a série não entrega algo que se destaque tanto nesse sentido. Ainda assim, a força da narrativa compensa essa falta de brilho técnico, e a direção de Muritiba é competente em manter o ritmo e o interesse ao longo dos episódios.

Um dos grandes méritos da série está em sua capacidade de criar momentos de tensão e emoção genuína. O episódio 5, em particular, é um exemplo de como a produção soube brincar com o público, trazendo à tona referências culturais e políticas da época retratada, além de músicas icônicas que transportam o espectador para aquele contexto. Esse episódio é um ponto alto, carregado de emoção, e é capaz de fazer o público rir, chorar e se arrepiar com a forma como a trama toca em questões tão reais e presentes no cotidiano brasileiro.

No final, Cidade de Deus: A Luta Não Para se firma como uma das grandes produções brasileiras recentes. Ao conseguir se desvencilhar da sombra do filme original, ela cria sua própria identidade, oferecendo uma narrativa envolvente e atual, que mistura elementos políticos, sociais e culturais de maneira coesa. Para os fãs do filme de 2002, a série é um complemento bem-vindo, mas para os novos espectadores, ela se mantém de pé por si só, oferecendo uma trama que cativa e faz pensar.

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