O Agente Secreto é uma carta de amor de Kleber Mendonça Filho ao cinema | Crítica

O Agente Secreto crítica do filme Wagner Moura Kleber Mendonça Filho

O Agente Secreto é o filme escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar de 2026. Dirigido por Kleber Mendonça Filho e protagonizado por Wagner Moura, o longa rapidamente justifica todo o hype e os elogios que vêm circulando desde sua primeira exibição no Festival de Cannes. E digo sem medo: trata-se de um filmaço.

A mente hipercriativa de Mendonça Filho, que respira cinema não apenas como entretenimento, mas como arte, transborda em cada detalhe. Ele escreve e dirige a obra, deixando evidente seu amor pela produção, pela montagem, pela crítica e pelo ato de contar histórias. E é justamente isso que faz O Agente Secreto ser precioso em todos os sentidos.

Assista ao trailer:

A trama nos envolve de imediato. Acompanhamos Marcelo (Wagner Moura), um homem em fuga, mas sem sabermos exatamente de quê. O roteiro segura as informações no tempo certo, e esse mistério é um dos grandes trunfos do filme. A escrita é impressionantemente bem amarrada, com um malabarismo de tons que equilibra drama, suspense político, investigação, ação, humor e até mesmo momentos trash que funcionam muito bem. Algo que poderia soar como um amontoado caótico de estilos, nas mãos de Mendonça Filho se transforma em harmonia pura.

Wagner Moura brilha como Marcelo. Seu talento em incorporar trejeitos dá leveza a um personagem que poderia facilmente ser apenas denso e pesado. Ele oscila entre serenidade e incômodo com naturalidade. É nítido o quanto está à vontade nesse papel, talvez até por estar atuando em um filme que se enraíza em sua própria terra, o Nordeste.

Tecnicamente, o longa é impecável. A fotografia é belíssima, a montagem é dinâmica, mas elegante, e o design de produção nos transporta com precisão para o Recife dos anos 70, em plena ditadura militar. Os carros da época, os figurinos e os cenários recriam uma atmosfera que não é apenas estética, mas também funcional, nos emergindo completamente nesse mundo.

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Outro ponto notável é como o filme dialoga com o cinema da própria época retratada, cheio de referências inteligentes que nunca soam gratuitas. Mesmo quando não estão diretamente ligadas à trama principal, essas escolhas se transformam em críticas afiadas — algo que Mendonça Filho domina, como visto em Bacurau. Aqui, ele trabalha de forma mais pontual, mas igualmente eficaz, principalmente no modo como aborda a visão estigmatizada sobre o Nordeste e a xenofobia contra seu povo.

O Agente Secreto se junta à lista de fenômenos raros do cinema nacional. Assim como Bacurau, Cidade de Deus ou, mais recentemente, Ainda Estou Aqui, este é um daqueles filmes que quebram barreiras e conquistam não só o público brasileiro, mas também o olhar internacional. É uma obra que equilibra política, humor, crítica social e entretenimento com maestria.

No fim, Kleber Mendonça Filho entrega um trabalho grandioso, criativo e liberto. O Agente Secreto é um marco, tanto pela qualidade cinematográfica quanto pelo impacto cultural. É um filme que tem tudo para brilhar no Oscar, mas que, independentemente de prêmios, já nasceu clássico.

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