O terror atual se vê preso a fórmulas previsíveis, alternando entre jump-scares e estruturas lineares que pouco surpreendem. A Hora do Mal chama atenção de imediato ao quebrar esse padrão, já que adota uma narrativa fragmentada, explorando múltiplas perspectivas que não surgem como mero artifício estético, mas como engrenagens fundamentais para o entendimento gradual da trama. Ao alternar pontos de vista e nuances de cada núcleo de personagens, o filme constrói um quebra-cabeça narrativo que vai calmamente se completando até que o segredo seja finalmente revelado.
Na trama, Alex (Cary Christopher) é o único sobrevivente de uma turma inteira de crianças que sumiram no mesmo dia e horário. O cenário abala a cidade e principalmente a professora da classe Justine Gany (Julia Garner), que decide analisar toda a situação por conta própria. Vários outros civis tomam o mesmo rumo de investigação particular e Archer (Josh Brolin), pai de um dos meninos desaparecidos, parece ser a pessoa mais próxima de achar conclusões.
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O enredo revela um conjunto de eventos com aparentes mínimas conexões, mas que pouco a pouco se entrelaçam. Transitando de um terror mais denso e atmosférico para um suspense de ritmo acelerado com toques de comédia (e até elementos de investigação policial). Cada mudança de tom é conduzida com naturalidade, permitindo que o enredo explore diferentes aspectos dos seus personagens e da ameaça que os afeta em conjunto.
Outro ponto de destaque está na construção dos personagens, que escapam de estereótipos simplistas. Cada um deles apresenta motivações próprias, falhas e virtudes, compondo um retrato mais humano, uma retratação que foge da superficialidade. A ameaça, por sua vez, é tão perigosa quanto vulnerável, o que aumenta a tensão, já que o espectador entende que ela pode ser derrotada, mas apenas diante de circunstâncias ideais. Esse equilíbrio cria um clima de constante instabilidade e angústia com a sensação de perigo está sempre a um passo de ser vencido.
Há também um mérito considerável no modo como o longa se permite brincar com a linguagem do gênero sem perder sua essência. Certos personagens e situações flertam com o exagero e o surrealismo, quebrando expectativas sem desrespeitar o tom geral da obra. Algumas das “regras não escritas” do terror também são quebradas, indicando que qualquer coisa pode acontecer e suprimindo ainda mais qualquer esboço de antecipação para a resolução final.
Weapons, no título original, é acima de tudo um arsenal de originalidade no panorama atual do terror. Ao evitar fórmulas saturadas e apostar em uma estrutura mais dinâmica, o filme conquista pela forma como mescla gêneros, conduz o mistério e desenvolve seus personagens. É um daqueles raros títulos que não se apagam da memória na semana seguinte, permanecendo vivos na lembrança justamente por seus méritos no contexto de autenticidade e envolvimento do público com a obra.
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